A magnitude e fomento do conceito ESG e da sustentabilidade
09 August 2022
De alguns anos para cá, muito se discute sobre a sustentabilidade na construção civil, e em como o setor pode fazer para utilizar fontes renováveis e desta forma, se adequar não só ao que o segmento pede, mas também ao que o mundo, de forma exponencial, demanda.
Nossos recursos naturais estão cada dia mais escassos, e a necessidade de mudança, mais urgente.
As empresas, buscam então, responder à indeclinável pergunta de 1 milhão de dólares: como gerir obras sustentáveis? Como originar economia, desde o planejamento da obra até sua execução, e principalmente em longo prazo e evitar gerar resíduo, como entulho, e não consumir bens não renováveis?
Uma notícia muito aclamada é de que o Brasil é o quinto país com mais empreendimentos sustentáveis.
Para o Green Building Council Brasil (GBC Brasil), o empresariado no país está empenhado em implantar práticas ESG no setor de construção civil, tanto que o Brasil se encontra no quinto lugar do ranking mundial em número de projetos sustentáveis, com destaque para a certificação LEED - Leadership in Energy and Environmental Design - na construção civil.
Em 2022, o primeiro projeto carbono zero de construção de um edifício multiresidencial no estado do Paraná pretende compensar 100% das 2.640 toneladas de gás carbônico com medidas de compensação em uma reserva de Mata Atlântica de propriedade da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem, a SPVS, localizada em Antonina, no litoral paranaense.
Um constante debate
Recentemente, o evento o Webinar da Sobratema, “Combustíveis do Futuro nos Equipamentos de Construção”, debateu amplamente o viés da questão.
Em nota, a organização afirmou que o Brasil tem a meta de ampliar de cerca de 25% para 30% o uso de combustíveis advindos de fontes renováveis até 2030. Assim, ano passado, o Ministério de Minas e Energia lançou programa Combustível do Futuro, com a finalidade de aumentar participação de combustíveis renováveis e de baixo teor de emissões e desenvolver novos biocombustíveis.
“O programa possui relação direta com a descarbonização sustentável, mantendo a segurança energética do país. Com uma estrutura clara e metodologia robusta, avalia as demandas para motores ciclo otto e diesel, marítimo, aviação e híbrido, e integra seis políticas públicas ligadas ao tema, como o RenovaBio, Proconve e Rota 2030”, afirmou Erwin Franieck, diretor presidente do SAE 4Mobility, instituto de Inovação, Pesquisa & Desenvolvimento e Engenharia Avançada da SAE BRASIL, durante o Webinar promovido pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema).
Para Franieck, nesse cenário, o biodiesel, o HVO (Óleo Vegetal Hidrogenado) e outros biocombustíveis ganham protagonismo como caminho para descarbonização, viabilizados por regulação favorável e de investimentos. “O HVO não tem limitação do volume a ser misturado, tem propriedade mais estável, diminui as emissões, melhora a regulagem do motor, e permite trabalhar na substituição de combustível fóssil por renovável”, avalia.
Sobre o hidrogênio, Franieck comentou sobre o potencial do Brasil para ser um polo produtor e exportador de hidrogênio e que a perspectiva é que de 5 a 10 anos, essa fonte pode se tornar mais competitiva do que o diesel em termos de custo, o que levará a ter um HVO – diesel verde – de baixo custo. Sobre a produção do hidrogênio a partir do gás natural ou do biometano, ele lembrou que pode ser feita em vários locais, incluindo nas proximidades das minas. “É importante lembrar que quanto maior for a potência consumida mais interessante é usar célula a combustível e transformar energia localmente”, explanou.
Silvimar Fernandes Reis, vice-presidente da Sobratema a presidente do Comitê ESG e de Sustentabilidade da associação, avaliou que problemas complexos exigem soluções igualmente complexas. “Nesse tema tão sensível e necessário a todos nós e ao planeta, o mix de várias soluções pode ser a saída da transição energética”, refletiu. Ele ainda lembrou que as construtoras e os prestadores de serviços do segmento também precisam fazer sua parte, revendo seus conceitos quanto à forma de produzir e executar as operações.
No entanto, uma questão: dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) no início de maio, apontam que 45% das empresas entrevistadas possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre o conceito Pegada de Carbono - primeiro passo para estipular metas e reduzir emissões.
Metas a cumprir
Para o Coordenador de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas para o Estado de São Paulo pela ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, Ricardo Crepaldi, é preciso ter em mente mudanças (melhorias) internas dentro de boas práticas/inovação e exemplos de mercado, junto de iniciativas dos colaboradores (participação): “A adequação começa no entendimento correto desse termo, a sustentabilidade hoje é muito mais profunda do que há alguns anos atras. Ela não mais pode, ela deve estar nas ações da empresa, em todos seus setores, ser um dos pilares básicos a serem discutidos a cada nova ou atual ação. Como muitos dizem e eu acredito, “deve estar no dna” da empresa, mas de todos os setores e todos os funcionários próprios/prestadores, assim deve estar inserido na “cultura” e “comportamento” como um todo.”, afirma.
Ricardo argumenta ainda que o mercado exige essa visão ou gera-se perda de negócios, colocando em risco a existência da empresa num mercado competitivo.
“O termo “ESG” vindo fortemente à tona pelo mercado, primeiramente por obrigação das empresas com ações na Bolsa de Valores, mas está avançando como conceito padrão de mercado não importando se está ou não está na Bolsa. Sim isso é uma evolução do mercado. Ressalto que o alcance do chamando “ESG” é muito mais fácil quando a empresa tem essa “sustentabilidade no sangue”., complementa ele.
O Brasil estipulou, em novembro de 2021, uma redução de 50% nas emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) a ser alcançada até 2030, além de ser um dos países mais promissores no Mercado de Carbono, com potencial de US$100 bilhões até o mesmo ano. Porém, o desconhecimento das empresas acerca do tema acende um alerta.
Conhecimento que atrai valor
Para ajudar nessa questão, surgiu o CBCS, Conselho Brasileiro de Construção Sustentável.
Trata-se de uma OSCIP, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, de âmbito nacional, criada em agosto de 2007 como resultado da articulação entre lideranças empresariais, pesquisadores, consultores, profissionais atuantes e formadores de opinião.
Entidade de representação neutra, seu quadro social é composto por pessoas físicas e jurídicas e agrega membros da academia, fabricantes, construtoras, projetistas, representantes de governo, associações e entidades de diferentes segmentos da construção civil de todo o Brasil.
As iniciativas promovidas têm como objetivo o aprimoramento de práticas de sustentabilidade do setor.
A instituição, juntamente com o Ministério do Meio Ambiente e o PNUMA -Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente desenvolveu um estudo sobre a construção sustentável no Brasil para servir de orientação para uma futura política nacional de promoção da construção civil sustentável e, recentemente, em parceria com o Ministério de Minas e Energia e o Ministério de Desenvolvimento Regional, disponibilizou duas plataformas de utilidade pública contendo métricas para a eficiência energética e emissões de gases de efeito estufa das edificações e da indústria de materiais de construção, o DEO Desempenho Energético Operacional de Edifícios (plataformadeo.cbcs.org.br) e o Sidac Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (sidac.org.br).
Na Odebretch, a despeito de a área de Sustentabilidade existir como diretoria desde 1998, quando as primeiras instruções sobre Saúde Ocupacional, Segurança do Trabalho, Meio Ambiente e Responsabilidade Social foram normatizadas e publicadas como orientações institucionais, aplicáveis indistintamente a todas as operações da empresa, os assuntos que permeiam a agenda ESG continuam sendo amplamente discutidos e aprimorados na empresa nos últimos anos.
Exemplo disto é o tratamento dado no mais alto nível da governança corporativa à atuação de comitês de assessoramento ao Conselho de Administração para os temas de Estratégia, Pessoas, ESG, Integridade e Auditoria Interna, com ampla participação de membros independentes.
Em relação ao tópico Meio Ambiente, uma gama de ações corrobora com este movimento. Uma delas é a certificação da OEC, pelo oitavo ano consecutivo, com o grau máximo do Programa GHG Protocol – ferramenta utilizada por empresas e governos para entender, quantificar e gerenciar emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Entre as 111 empresas que receberam o Selo Ouro do programa no Brasil, a OEC foi a única do setor de construção pesada a figurar na lista, reforçando o compromisso com o clima e suas diretrizes de sustentabilidade. Dois exemplos de boas práticas avaliadas pelo GHG Protocol foram as ações voltadas ao reuso de efluentes e ao reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos.
Neste período, o inventário apresentou uma redução de 44% das emissões ligadas à destinação final de rejeitos em aterros ou estações de tratamentos de efluentes. A empresa se tornou referência em sua área nos debates sobre baixo carbono.
Desde 2016 a OEC publica seu Relatório Anual segundo diretrizes internacionais de informes em Sustentabilidade.
Nesse processo, a comunicação do desempenho considera os temas materiais identificados de maneira abrangente junto às partes interessadas. Para tanto, neste momento está em curso na OEC a atualização da sua Matriz de Materialidade. “Concluímos recentemente a consulta junto aos stakeholders e, em breve, divulgaremos o resultado como parte de nosso Relatório Anual. Esse processo, instrumentalizado por novas ferramentas de comunicação, encontrou pessoas mais conectadas e informadas sobre os temas associados à agenda ESG e à Sustentabilidade. Hoje, conhecemos mais sobre as responsabilidades de todos – inclusive das empresas –, para a promoção de um futuro melhor. A nova Matriz refletirá esse novo momento e servirá objetivamente ao planejamento e fortalecimento da agenda ESG na OEC”, comenta Paquisa Brandão, responsável interna pela pesquisa.
Também com focos estabelecidos, a LafargeHolcim investe em ser uma empresa “eco friendly.” Bruno Hallak, gerente de Sustentabilidade da empresa, crê que a grande mudança em termos de ESG nas empresas que, assim como a LafargeHolcim, já trabalham com projetos sociais e ambientais há muitos anos, é a melhoria da estrutura de Governança, para garantir que os resultados sejam atingidos. Empresa conta com programas robustos em Saúde e Segurança, ações voltadas para Diversidade e Inclusão e Clima Organizacional.
“Na área social, é priorizado o desenvolvimento das comunidades do entorno das unidades, por meio do Instituto LafargeHolcim, com o objetivo de contribuir para serem independentes. A companhia apoia ações locais, especialmente as voltadas para capacitação e geração de renda, e projetos de educação ambiental. A empresa ainda mantém os programas de Voluntariado e diversas ações internas, além do Comitê com a Comunidade, SEP (Stakeholders Engagement Plan) e diagnóstico de Direitos Humanos, a fim de garantir que todos sejam respeitados.”, reitera o executivo.
Em relação às práticas ambientais, dentre diversas iniciativas, destaca-se o tratamento de resíduos sólidos, tanto próprios como de origem industrial e urbana, por meio do coprocessamento e da reciclagem. Desta forma, a LafargeHolcim informa que dá destino adequado a este material, deixa de utilizar combustíveis fósseis, reduz a emissão de CO2 e promove a economia circular. Além disso, realizam controle de emissões, tanto de particulados, quanto de gases e monitoramento do uso de recursos hídricos.
“Por meio da recirculação de água, captamos cerca de 90% menos água para as nossas operações. Temos também um compromisso marcante com a recuperação das áreas florestais das minas, com ações focadas na preservação da biodiversidade, plantando espécies nativas e promovendo o retorno de animais locais.”, acrescenta.
Valorização que leva ao incremento
Um dos sinais da valorização da Sustentabilidade Corporativa é a adoção pela BOVESPA do ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial, já adotado por um grupo seleto de empresas.
Este grupo, em futuro próximo, com certeza contará com a participação das empresas do setor da construção que já estão com seu capital aberto e com suas ações na Bolsa.
A preocupação com desenvolvimento sustentável ganhou impulso a partir da ECO92, quando governo, empresas e sociedade civil passaram a se empenhar em desenhar instrumentos que levassem em conta as dimensões social e ambiental, ganhando impulso maior a partir de 2000.
A Eco-eficiência é uma das práticas da sustentabilidade, por meio da qual as empresas buscam produzir mais com menor utilização de energia, água e materiais, seja graças à melhoria de eficiência nos processos produtivos existentes, seja por abordagens inovadoras em projeto, materiais, equipamentos e construção.
Visando potencializar as práticas e estruturá-las de forma equânime a ADN Construtora, por exemplo, decidiu desenvolver uma série de ações que contribuem para seu crescimento, de forma sustentável, socialmente responsável, e alinhada às melhores práticas de governança corporativa.
Henrique Stapf, gerente de gestão da qualidade da companhia, destaca as principais dores e desafios da empresa no que tange às questões focadas em ESG. “Desde o início da nossa história já realizávamos uma série de práticas sociais, ambientais e de governança, mas nossa maior preocupação é criarmos uma estrutura bem sedimentada antes de divulgarmos para o mercado da construção e incorporação que somos uma empresa ESG”, revela.
O executivo destaca ações já adotadas pela ADN como segregação de resíduos nas obras e apoio a plantio de árvores, em se tratando de práticas ambientais, bem como existência de setor jurídico e de qualidade, com foco na governança; e criação do Instituto ADN e dos departamentos de gestão de pessoas e endomarketing e de relacionamento com o cliente como práticas sociais.
Outra empresa dedicada ao conceito ‘eco friendly’ e ao compromisso ESG, é a Volkswagen. A companhia intensificou esforços para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030 para conter o aquecimento global. Desta forma, os critérios ESG auxiliam na identificação e gestão de riscos e oportunidades, visando gerar o máximo benefício para os clientes e a sociedade em geral ao longo do ciclo de vida dos produtos. É uma jornada longa, que requer comprometimento e grande empenho de toda a organização, mas com resultados consistentes, perenes, em linha com nossos valores e estratégia.
Como uma das marcas do Grupo TRATON, a VWCO atua seguindo as diretrizes do grupo que tem como propósito maior que as subsidiarias sejam empresas responsáveis.
Visa-se não só atingir metas ambientais e climáticas, também fortalecer a responsabilidade pelas pessoas dentro do escopo de influência: para colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros de negócios.
Para tanto, metas e diretrizes de sustentabilidade e ESG foram definidas considerando o impacto de aspectos ambientais e sociais estratégicos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e métricas ESG:
- Descarbonização e circularidade: Transformando o modelo de negócios e o design do produto para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com metas embasadas na ciência, bem como a redução do consumo de recursos.
- Pessoas e pluralismo: Promover uma variedade de competências e igualdade de oportunidades para colaboradores e parceiros para aumentar a atratividade do empregador, bem como a força inovadora. Como parte desse processo, olhamos além de nossa própria empresa e colocamos a responsabilidade social em prática ao longo de nossa cadeia de valor.
- Governança e ética: Facilitar uma decisão transparente, orientada a riscos e uma tomada de decisão justa e consistente com os direitos e obrigações da VWCO, gerando valor a longo prazo para o grupo e suas partes interessadas.
Com concepções e convicções praticadas de maneira consciente, as empresas dão um show de responsabilidade e engajamento.
Ações de gestão de resíduos, utilização de materiais de baixo impacto ambiental, investimentos de energia renovável, reutilização de água, baixa emissão de carbono e uma efetiva vontade de fazer diferente e traçar novos caminhos, trarão o resultado esperado e farão do conceito ESG e da inversão em sustentabilidade, habituais e irremediáveis.