México: projetos para o crescimento

A construção mexicana está há tempos em más condições, e a pandemia do covid-19 deu no setor uma espécie de tiro de misericórdia.

De acordo com o último informe do Instituto Nacional de Estatísticas e Geografia do país (INEGI), de 18 de dezembro, em outubro de 2020 a produção do setor no México caiu 0,1% em termos reais em relação ao mês anterior, com base em números dessazonalizados. O pessoal ocupado no setor caiu 0,4%. Na comparação anual, o valor real produzido pelas empresas construtoras registrou uma variação de -24,2%, e o número de empregados ficou 19,7% menor.

O pacote de investimentos conta com 48 projetos rodoviários. Na foto, a rodovia Pirámides-Tulancingo-Pachuca, liderada pela Sacyr.

Neste contexto, o PIB geral da construção registraria uma queda de 15% em 2020, a maior queda em 25 anos, já que em 1995 o setor viveu uma crise que derrubou seu resultado em 32,3%. Estes indicadores, obviamente, trazem consigo o fechamento de muitas empresas do setor. De fato, de acordo com estimativas da Câmara Mexicana da Indústria da Construção (CMIC), são 2 mil as empresas relacionadas com o setor que foram à falência.

“É um momento difícil. Muitas empresas são pequenas e médias, e se não têm apoio financeiro oportunamente (porque não são sujeitas de crédito) para sustentar seus trabalhadores, era impossível que não houvesse quebras e demissões. Não há obras. As empresas fizeram um esforço grande e não deu mais. Agora as empresas afiliadas são cerca de 10 mil”, comentou o presidente da entidade, Eduardo Ramírez.

Apesar do panorama atual, a boa notícia é que a CMIC espera um crescimento de 5,5% neste ano, embora esta ligeira recuperação não seria suficiente para alcançar os níveis anteriores a 2019, quando o setor começou a cair.

Estas projeções são mais positivas que as apresentadas em outubro passado pela GlobalData, que espera uma contração na construção mexicana de 17,9% em 2020, a qual se aprofundaria com uma nova queda em 2021, de 4,6%.

Em termos de sua economia em geral, destacam-se as últimas projeções do Banco Mundial, que indicam que o PIB mexicano caiu 9% em 2020, e que poderia se recuperar 3,7% e 2,6% em 2021 e 2022, respectivamente.

PACOTES DE INVESTIMENTO

Independente das diferentes projeções, o que é certo é que para 2021 espera-se uma reativação do setor, que se fundamentaria principalmente em dois aspectos: o processo de recuperação econômica a ser iniciado pela vacinação contra covid-19 e o pacote de 68 projetos anunciados pelo governo, que totalizariam 525 bilhões de pesos mexicanos (cerca de US$ 26,6 bilhões e em torno de 2,3% do PIB do país).

A Sener foi premiada por seu trabalho nas estações elevadas da linha 3 do metrô de Guadalajara, inaugurada em setembro de 2020.

No início de outubro, o governo já havia anunciado um primeiro pacote composto por 39 projetos de infraestrutura por um total de 297,3 bilhões de pesos mexicanos (US$ 15 bilhões). Posteriormente, em 30 de novembro, se anunciou um segundo pacote composto por 29 iniciativas que totalizam investimentos de 228,6 bilhões de pesos mexicanos (cerca de US$ 11,5 bilhões).

De acordo com o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, estas iniciativas permitirão que a economia recupere a força perdida no primeiro trimestre de 2021. “Esta é a minha previsão, que vamos conseguir nos recuperar e começar a ter um crescimento econômico maior”, afirmou.

O governo está decidido a utilizar a infraestrutura para reativar a economia, e assim recentemente anunciou que entre fevereiro e março um terceiro pacote de novos projetos será anunciado. “Vai haver um terceiro anúncio, estamos trabalhando nele, eu o esperaria para fevereiro ou mais tardar em março, quando reuniremos entre 20 e 30 projetos adicionais, que somados aos 68 que anunciamos antes vão continuar aumentando a quantidade de recursos privados que podem se orientar à obra pública”, afirmou Carlos Salazar Lomelín, presidente do Conselho Coordenador Empresarial (CCE).

POR SETOR

O setor receptor destes investimentos é sem dúvida o de rodovias. São 48 projetos rodoviários que receberão um investimento de quase US$ 10,1 bilhões, cobrindo assim 38,2% dos desembolsos anunciados nestes dois pacotes.

Andrés Manuel López Obrador, presidente do México.

O projeto mais importante nesta área é a modernização da rodovia Ecuandureo – La Piedad, Zitácuaro – Maravatío e interconexão Lagos de Moreno, iniciativa que envolve investimentos de cerca de US$ 455 milhões, e que se iniciou em julho passado.

O segundo setor predominante em termos de investimentos é o da energia, que conta com cinco iniciativas que demandarão desembolsos por cerca de US$ 5 bilhões, 18,8% do total programado nestes dois pacotes.

O mais importante dos anúncios é a instalação de uma planta de coque na reinaria de Tula, que demandaria investimentos de US$ 2,77 bilhões; segue-se a ela uma unidade de liquefação de gás em Salina Cruz por cerca de US$ 1,27 bilhão; e a reabilitação de uma planta de coque na refinaria de Cadereyta, por cerca de US$ 780 milhões.

Em terceiro lugar estão os projetos ferroviários, que com apenas três projetos deverá receber investimentos de US$ 4,23 bilhões (15,9% do total). Sem dúvida, o plano mais destacado nesta lista é o do trem México – Querétaro, obra que foi pensada como um trem de alta velocidade, mas que foi suspensa indefinidamente em 2015 pelo governo anterior. A iniciativa havia sido licitada a um consórcio liderado pela China Railway Construction Company (CRCC), mas que foi questionado por um suposto tráfico de influência devido à participação de empresas como Constructora Teya, filial do Grupo Higa, que esteve na mira por sua proximidade com o ex-presidente Enrique Peña Nieto.

Segundo o novo planejamento, as obras podem ser retomadas em junho de 2021 sob esquema de concessão. O projeto foi concebido como um trem elétrico de alta velocidade, com uma extensão de 210 quilômetros, percorridos em 58 minutos.

O México tem uma importante carteira ferroviária. Em novembro, López Obrador teria dito que “uma das metas do governo que encabeço é que possamos, ao final do mandato, entregar 2 mil km de ferrovias para trens modernos no país”. Isto graças a projetos como o Trem Maya, o trem do Istmo e o trem Toluca-México.

Com este panorama, a economia mexicana em geral e a construção em particular poderiam experimentar um excelente 2021. Mas não se deve esquecer que, além das vontades e dos planos que existam no papel, é necessário cumprir com algumas condições de investimento, que haja facilidades governamentais e se agilizem as licenças para evitar gargalos que dificultem os investimentos privados.

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Cristian Peters
Cristián Peters Editor Tel: +56 977987493 E-mail: cristiá[email protected]
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